sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sobre FELA KUTI

Nascido na cidade de Agbeokuta na Nigéria em 1938, Fela Ransome Kuti era filho de um pastor protestante e diretor de uma escola - homem severo e rigoroso no estilo britânico - com uma militante comunista, tida como a "grande dama" na Nigéria, que chegou a conhecer Mao Tsé Tung.
 

No início dos anos 60, Fela vai estudar música em Londres, onde inicia suas experiências musicais para criar um estilo próprio a partir de fusões da percussão e cânticos tradicionais yorubanos, com original funk e jazz, que resultaram no "Afrobeat", ritmo do qual é considerado o pai. Utilizando o "endless groove" como ritmo base, com baterias, "muted guitar" e baixo que são repetidos continuamente ao longo das músicas, enquanto os metais alternam nuances tal qual o "lé", tambor menor utilizado nos ritos de terreiros do candomblé, que possuem origem também na cultura Yorubá da Nigéria. Com rifes e coros, as músicas de Fela, em geral, possuem dez minutos ou mais, em shows em que o ponto forte era a performance dele ao lado de suas dançarinas e backing vocals, acompanhados por uma big band. O afrobeat em pouco tempo conquistou o mundo e, de 1971 a 1992, Fela Kuti lançou 48 discos, acompanhado em momentos distintos pelas bandas Afrika 70 e Egypt 80.
 

Da mãe, Fela herdou a natureza revolucionária. Após formar sua primeira banda, a Nigéria 70, que mais tarde seria Afrika 70, ele excursionou no final dos anos 60 pelos EUA, onde teve contato com o movimento Black Panther e a ideologia e pensamento de Malcom X.
Ao regressar para a Nigéria, lidera uma resistência político-cultural ao governo nigeriano, transformando a sua boate Shrine em QG de resistência. Suas letras traziam criticas sociais ao governo e denúncias da realidade de marginalização da população daquele país africano, chegando a comparar os maus tratos que a população nigeriana sofria como piores do apartheid na África Sul, alegando que enquanto lá o racismo era de brancos contra negros, na Nigéria a realidade era de negros destratando negros. Em 1977, Fela substitui o nome Ransome por Anikulapo, já que considerava o primeiro o nome de um escravo, já o segundo sendo o nome de um rei, significando "aquele que carrega a morte no bolso".
 

Em seus concertos no Shrine, Fela desafiava o governo nigeriano, tendo sido levado a julgamento centenas de vezes e sofridos represálias militares. Numa ação em tom de protesto, Fela casou-se com 27 mulheres numa mesma cerimônia, sendo a mairia delas dançarinas e backing vocals de sua banda. Até que, em uma das represálias, Kuti foi cruelmente espancado e arremassado de uma janela junto com sua mãe - já idosa -, que morreu nesse atentado contra o Shrine, que o centro de resistência da "República de Kalakuta", liderada por Fela.
Os ideais panafricanistas de valorização das culturas e saberes africanos diante supremacia e dominação européia nortearam as atividades de Fela durante toda vida, que acreditava que "o panafricanismo está no pensamento de todos agora. Subconscientemente, todos sabem que têm de ser africanos agora”, como registra o videodocumentário "Music is the weapon", que será exibido durante o tributo em Belo Horizonte.
 

Em 1997, Fela veio a falecer vítima de AIDS. Desde a última década, várias capitais na África e país da diáspora pelo mundo realizam o "Feladay" como tributo a Fela Kuti no seu dia de nascimento, em 15 de outubro.

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